Administradora e analista de Sistemas, Karen Lopes — diretora de soluções digitais da Procergs (Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Rio Grande do Sul) foi a entrevistada especial da Revista Brasileira de Administração (RBA), edição 140. Profissional de destaque, ela falou sobre como é trabalhar no setor de gestão voltada à tecnologia e também sobre oportunidades, desafios e a realidade do mercado de trabalho, na área em que atua.
Especialista em Sistemas da Informação e em Gestão Estratégica, ela tem 35 anos de experiência dedicados à aplicação de tecnologia na gestão pública de seu estado. acumula os títulos de mestra na área de negócios e é doutoranda em administração, com tese em “Valor Público e Governo Digital”.
Leia, abaixo, a continuação da entrevista concedida à RBA, edição 140. Ou se preferir, clique aqui e leia antes a primeira parte.
No Brasil, não raro, temos de apresentar vários documentos ou certidões para efetuar algum trâmite junto ao governo. Por que ainda não estamos totalmente integrados digitalmente?
É difícil pensar em qualquer governo sem o uso intensivo das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação). O potencial das tecnologias digitais está disponível para tornar o governo mais ágil, menos complexo e mais simplificado e responsivo
As TICs foram cruciais para garantir que governos pudessem criar estratégias de continuidade na prestação de serviços, principalmente, nas áreas de saúde, educação e segurança pública, em um cenário de restrições ao movimento de pessoas e ao funcionamento tradicional das organizações. Segundo dados de outubro/2020 do ‘CETic.br’, uma proporção maior de usuários de internet procurou informações ou serviços digitais durante a crise sanitária.
Cerca de um quinto (1/5) dos usuários de Internet, com 16 anos ou mais, utilizou serviços de telessaúde para consultas, agendamentos ou visualização de resultados de exames pela Internet.
E o que tem sido feito para melhorar os serviços?
A solução para enfrentar os desafios da transformação digital passa pelos governos adotarem estratégias que incluam objetivos e ações concretas e mensuráveis. No caso do governo do RS, a estratégia de transformação digital tem como propósito ressignificar a relação do estado com cada cidadão, colocar o governo na palma das mãos dos gaúchos e tornar 100% dos atuais serviços em digitais.
Já no âmbito dos estados brasileiros e do Distrito Federal, foi criado pela ABEP e pelo CONSAD um Grupo de Transformação Digital — o GTD.GOV. No formato de uma rede nacional, formada por servidores e empregados públicos, ele reúne especialistas para compartilhamento, troca de experiências, melhores práticas e soluções em governança, arquitetura tecnológica e serviços digitais para o cidadão.
Uma de suas áreas de trabalho é a transparência governamental. Nesse sentido, o excesso de burocracia facilitaria a corrupção? O que fazer para combatê-la?
A base do enfrentamento à corrupção é a abertura governamental. Um governo aberto é aquele que além de promover transparência na entrega de dados e informações, também promove a colaboração social. Quanto mais o governo entregar dados e informações, maior o potencial e a capacidade de controle social. Novamente, as tecnologias aparecem como impulsionadoras, a fim de garantir ações concretas que ampliem as formas de governança aberta e colaborativa, trazendo os diversos stakeholders para o debate. Assim, as diversas iniciativas digitais de governo aberto promovem, com certeza, a redução e a mitigação da corrupção. Com o advento da inteligência artificial, um projeto interessante seria a transparência dos algoritmos e robôs utilizados pelo governo, especialmente, porque muitas destas automatizações têm impacto na vida das pessoas.
E no Rio Grande do Sul (RS), o que vocês têm feito nesse sentido? Como o RS está nesse ranking, em relação a outros estados?
O rs.gov.br — que é a plataforma de serviços digitais do estado — oferece 424 serviços, sendo 55% deles digitais. Mais de 90% das funcionalidades já são acessadas pelo portal integrado e 82% das cartas de serviço encontram-se atualizadas; a meta é chegar a 100% em todas as métricas até o final de 2022.
Cabe ressaltar, no entanto, que há grande disparidade entre os estados e municípios brasileiros, em relação às suas capacidades de transformação digital. Em geral, os governos enfrentam desafios como limitação de recursos, questões regulatórias e objetivos conflitantes, além da falta ou insuficiência de infraestrutura e capacidades digitais.