A Revista Brasileira de Administração (RBA, edição 142) está no ar e traz como destaque a entrevista especial com a administradora Fabíola Almeida. Pesquisadora e Head de inovação do Sebrae-AM, ela fala sobre as mudanças no mundo dos negócios provocadas pela tecnologia.
Na continuação de sua entrevista (abaixo), dada à edição completa de RBA, ela fala sobre o cenário de inovação no Brasil e em seu estado, o Amazonas.
De que forma uma pessoa que tem uma boa percepção do mercado poderia viabilizar uma ideia, até se tornar uma empresa?
No Brasil existem vários movimentos e programas de incentivo à criação de startups e de empresas inovadoras de impacto. Em todos os estados temos ecossistemas inovadores que fomentam este mercado, por meio de meetups com empreendedores de startups, hackthons, ‘startup weekends’, entre outros.
São eventos que estimulam empreendedores a solucionar problemas reais de mercado ou desafios que enfrentamos. Acontecem trocas de experiências e mentorias, além dos programas de aceleração e oportunidades de fomento e estímulo.
No seu estado, o Amazonas, de que forma tem ocorrido a inovação?
O Amazonas é um ecossistema novo. No entanto, possui grandes instituições tecnológicas, polo industrial, instituições de ensino e pesquisa, além de várias instituições de apoio, diversidade humana e natural. Esse conjunto são fatores extremamente propícios para o surgimento de startups, com propósito de resolver grandes dilemas das discussões em voga. Por isso, temos trabalhado no fortalecimento do ecossistema de inovação para acelerar e escalar este processo.
O Brasil tem produzido produtos e serviços disruptivos ou no mínimo interessantes? Quais seriam?
Para o mercado de inovação brasileiro, o ano de 2020 foi histórico. Segundo a hub de inovação ‘Distrito’, as startups nacionais receberam US$ 3,5 bilhões em investimentos ao longo de 2020. As que ganharam muito destaque foram principalmente as fintechs, retail, healthtechs, logtechs e edtechs. Esses segmentos fizeram o mercado brasileiro respirar e se manter aquecido. A startup ‘Dr. Consulta’, por exemplo, nasceu para resolver um dos problemas do mercado de consultas médicas, que ainda é muito atrasado e insipiente: com reserva de mercado, lideranças baseadas em modelos arcaicos de gestão e lentidão na adoção de saídas tecnológicas. Ela oferece consultas e exames a preços populares e investiu na telemedicina — oportunidades que já estavam latentes no mercado.
Além de Pernambuco e Minas Gerais, quais são os outros polos de inovação existentes no Brasil?
Indo para o Sul, temos Florianópolis-SC, que tem se consolidado como uma cidade modelo para o Brasil, em questão de ecossistema de inovação e desenvolvimento de startups disruptivas. No último mês, a Startup RD Station abriu 92% do capital para a TOTVS, por R$ 1,86 bilhão, e este é só um dos vários casos de sucesso de Santa Catarina. O Paraná também tem grande destaque nacional e grandes startups. Jamais podemos esquecer também de São Paulo, que se configura entre os dez maiores ecossistemas de inovação do mundo, por ter uma infraestrutura com grandes players importantes que favorecem o desempenho do ecossistema. A maior parte das startups de destaque no país estão lá, como Nubank, Creditas, Guia Bolso, Docket, Stone, Quinto Andar só para citar algumas. Hoje o grande desafio é fazer reverberar esse movimento tecnológico em outras regiões do Brasil.
Qual a relação de uma empresa comum com esse tema (ecoinovação)?
Existe uma preocupação com a criação de sociedades pacíficas, justas e inclusivas, bem como meios de implementação para realizá-los. O consumidor busca por negócios que tenham propósito e identificação, e que causem impactos positivos à sociedade e a terra. É o lucro que vai além do econômico. Em geral, a sociedade quer transformações e, hoje, com uma busca rápida na internet, você descobre a reputação da empresa e se realmente o que ela nos vende está ligada a um propósito transformador.
Muito se fala em startups e inovação, mas o público em geral não tem ideia de como tornar concreta uma iniciativa nesse sentido. Como fazê-lo?
Um exemplo pode ser visto no mercado de varejo. O que dizer da super Luíza Trajano, CEO do Magazine Luíza — empreendedora com um feeling incrível, que não permite que a empresa fique acomodada. Ela sempre está se antecipando, ao se voltar totalmente para resolução de problemas complexos, com respeito e valorização do seu capital humano. Em 2020, em plena pandemia, o magazine abriu a sua plataforma de E-Commerce para as pequenas empresas e autônomos do varejo. Com isso, permitiu a sobrevivência desses negócios, além de inseri-los no mercado digital em formato de relação ganha-ganha. No meu ponto de vista, a inovação está acessível a todos. O que precisamos é assumir um papel de protagonismo, nos anteciparmos às mudanças cada vez mais rápidas. E como fazer isso? Realizando alianças estratégicas, incentivar novos modelos de negócios e praticar a inovação aberta, principalmente, em parcerias com universidades e hubs de inovação.
Qual a diferença entre uma startup e uma empresa igualmente inovadora que não leva esse título.
No meu ponto de vista, a grande diferença entre uma startup e uma empresa inovadora está na flexibilidade da primeira, pois a startup é voltada para experimentação de novos mercados. Além disso, é focada em receitas para seu financiamento e captação de investimentos, além de investir no seu potencial de crescimento rápido. Já nas empresas inovadoras, este processo é diferente, porque elas atendem os anseios de acionistas e têm uma estrutura para manter e responder a muitas normas para funcionar.
Aos proprietários de pequenas e microempresas, qual conselho a senhora lhes deixaria neste momento disruptivo, em que até mesmo grandes instituições não sabem ao certo o que fazer para sobreviver no mercado?
Não tenham medo das mudanças e busquem ajuda profissional. Fiquem mais perto desses hubs de inovação, aumente a sua rede de relacionamento, abrace a tecnologia e entenda o propósito do teu negócio. No Sebrae, nós temos várias oportunidades e programas que apoiam o desenvolvimento do empreendedorismo; com foco na geração de negócios e no impacto positivo à economia. Além disso, estamos acessíveis, pois somos uma rede presente em todo o Brasil.
Por Leon Santos – Assessoria de Comunicação CFA.
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